Bem-vindos a este espaço de partilha de todos para todos

terça-feira, 31 de março de 2015

Sublime...




O Nazareno, poema de Frei Hermano da Câmara

 na voz de Amália Rodrigues



Meu Rei Pescador ( Parte II )



Meu Rei Pescador II





Voz de silêncio eco de mar
Ondas serenas a suspirar
Deixam no ar o perfume
Do jasmim a restolhar

A brisa desdobra sonhos
Asas de condor a pairar
Na escuridão do tempo
Soa apenas Teu respirar

Planícies de chão dourado
Acolhem meu caminhar
Que se guia pelo som
Do Teu coração a chamar

Meu nome tem outro tom
Na Tua voz murmurado
Com o oiro dos séculos
Foi sendo abençoado

Em dias de tempestade
És farol, que a noite irradia
Teu manto porto de abrigo
Meu Rei…Meu Rei Pescador




Maria Adelina



segunda-feira, 30 de março de 2015

Um outro "Pai-Nosso"



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Pai-nosso que Estais no Céu,
            em cada irmão sediado, lugar eleito para a Tua recriação

Santificado seja o Vosso Nome,
herança de todos, por muitos ainda esquecida

Venha a nós o Vosso Reino,
pedra a pedra construído pelas mãos onde edificas

Seja feita a Vossa Vontade,
de em cada coração Te reconhecer-mos na arena da adversidade

Assim na Terra como no Céu,
ilusão criada, pois um, é a felicidade plena, quando a outra, é amada

O Pão-nosso de cada dia nos dai hoje,
em molhos do Teu amor que permuto com as searas de trigo

Perdoai-nos as nossas ofensas,
degraus de ascensão, assimilados em cada missão

Assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido,
pois estes são, tal qual eu, hologramas do Teu excelso Ser

Não nos deixeis cair em tentação,
de esquecer que em cada momento fazes parte de mim

Mas livrai-nos de todo mal,
na mente materializado, apenas e só, quando me aparto de Ti

Amém



Maria Adelina



Meu Rei Pescador ( Parte I )







Meu Rei Pescador I





Meu Rei Pescador
No silencio profundo
Que a madrugada inicia
Sinto a Tua voz melodia

Saudade tão presente
Pelos séculos latente
Que outra voz recria
Pela senda do amor

Meu Rei Pescador
Procuro Tua mão achar
Sem perceber que na minha
Está todo o Teu Ser….

Pela aragem do deserto
Pressinto Teu caminhar
Quando o Sol se anuncia
Num espectro de cor

No arco-íris deixas-Te guardado: o brilho das estrelas do Teu olhar redentor – o espelho d`água reflector do Teu toque curador – o raio dourado do Teu coração unificado, para quem os queira resgatar… Meu Rei Pescador


Maria Adelina




domingo, 29 de março de 2015

Aconteceu-me um poema - Semana do Mestre


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Fernando Pessoa não dizia:
"escrevi um poema, mas sim, aconteceu-me um poema"






Em madrugada de estrelas cadentes
Na plenitude desta esfera espacial
Bancada de alquimia, arca da aliança, terra
Jóia engastada em luz, cingida na fronte de Deus
Ovo cósmico placenta de esperança e redenção
Fonte de vida do Pai que o Filho santificou




Maria Adelina



Música a cura da Alma

sexta-feira, 27 de março de 2015

ESTES ADULTOS ESTÃO LOUCOS!








      ESTES ADULTOS ESTÃO LOUCOS!







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Ainda não percebi bem o que querem de mim...

Nasci porque a minha mamã queria ser Mãe e o meu papá queria ser Pai.
Mas não pensaram que eu queria ser filho deles a tempo inteiro.
E eles, afinal, não tinham tempo para mim.
Mas fizeram-me nascer na mesma.
Agora sou bebé, passo 8 ou 9 horas por dia na creche, até que a minha mãe (quase sempre) ou o meu pai, me venham buscar.
Chego a casa cansado, como, os meus pais cansados, olham para mim,
dizem blá-blá-blá, eu rio-me, eles também e vou para cama.
Ando assim 5 ou 6 anos.
Depois entro na escola.
Entro logo de manhã, às vezes debaixo de chuva, vento e muito frio e
estou dentro da escola, 6 ou 7 horas, até que a minha mãe (quase sempre) me venha buscar.
Em casa, faço os TPC's,, com a ajuda possível dos meus pais, que estão cansados, frustrados, revoltados com o trabalho, que mal dá salário para vivermos com dignidade, até que chega a hora do jantar, feito pela minha mãe.
Depois olham para mim, com os olhos cansados, mas ainda com energia para dizerem blá-blá-blá. Eu ainda me rio, eles também, lavo os dentes e vou para a cama.
Ando assim mais 4 anos.
Entro na escola secundária. Tenho muitos professores e muitas disciplinas. fico lá 6 ou 7 horas, até tocar para a saída.
Nos primeiros tempos ainda espero pelo meu pai (é ele que tem o carro), e vou casa.
Mas, alguns 3 ou 4 anos depois, já vou sozinho para casa. 
Apanho os transportes públicos, cheios de adultos que até me pisam para entrarem primeiro que eu, mostro o "passe" e chego a casa. Cansado! Beijo o meu pai, também cansado, Beijo a minha mãe na cozinha,
também cansada, e tento fazer os TPC's. Por vezes adormeço. Muitas vezes não consigo fazê-los.
E então já sei que os professores vão escrever um "recado" ao meu pai. E depois vou ser castigado. Mesmo que esteja cansado! No dia seguinte, o professor grita comigo e pergunta se os meus pais não têm tempo para me dar educação.
Eu não respondo, mas apetece-me!
Alguns dos meus colegas, respondem!
E os professores dizem que não são educadores. Que​ os educadores devem ser os pais.
Só que os professores estão comigo 7 horas por dia, se não faltarem às aulas. Os meus pais, estão comigo, talvez, 2 ou 3 horas por dia, o resto é para comer e dormir.
Fico a pensar, quem é que me pode educar?
Acho que os adultos estão loucos!
Vou começar a fazer birra!
Talvez me olhem de outra maneira...
Acho que vou começar a fumar nas traseiras da escola. 
Está lá a malta da turma.
Eles até não se importam de "partilhar aqueles cigarros que eles próprios fazem".
Eles dizem que aquilo é um paraíso. Talvez experimente.
Os professores não vão dizer nada porque não são meus educadores.
Os meus pais não vão dizer nada porque na escola ninguém tem 
obrigação de me vigiar e em casa os meus pais estão cansados 
e só estão comigo (acordados) 2 ou 3 horas.
Os adultos dizem que eu sou mal-educado mas não é verdade, 
eu não tenho mesmo educação nenhuma.
Porquê?
Porque os adultos não têm tempo!

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​​NOTA:
Não tenho nada contra os Pais ou os Professores, mas tenho 
contra esta Sociedade desequilibrada!

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João Pessoa


quinta-feira, 26 de março de 2015

A fina ironia onde passeiam grandes e tristes verdades

A lei dos pobres
por JOÃO CÉSAR DAS NEVES 
Em tempos a lei ocupava-se de culpados e criminosos; agora trata sobretudo de inocentes em actividades pacíficas, subitamente fora da lei. Os motivos dessas proibições e castigos são sempre excelentes; o resultado é perda de liberdade.
Exemplo recente são os sacos de plástico, passando de banalidade a multa. De repente, transformou-se em transgressão grave, certamente por razões poderosas, aliás longamente escalpelizadas na imprensa. É impressionante o esforço legislativo, inspectivo e produtivo envolvido nesta grave questão que, até há semanas, era corrente e vulgar. Nunca o humilde saquinho julgou merecer tanta notoriedade.
Antes desta moda eram outros os comportamentos ordinários que mereciam a atenção das autoridades. Elas já nos tinham protegido dos bandidos que nos queriam assassinar com brindes de bolo-rei, gasolina com chumbo ou sabonetes sólidos e toalhas de pano em casas de banho públicas. Se alguém perguntar, por exemplo, o que faziam os nossos vigilantes legisladores enquanto se desenrolavam os sérios casos de corrupção e fraude financeira agora denunciados, a resposta é que, além de decretarem a ortografia, reprovando alunos que escrevam como sempre, andavam a erradicar os terríveis terroristas conhecidos como fumadores ou bebés causadores de incómodos socioeconómicos. Estes últimos foram mesmo condenados à morte, pena alegadamente abolida em 1867.
Felizmente, hoje estamos devidamente defendidos de algumas graves práticas criminosas como, por exemplo, guiar um carro. As centenas de exigências, imposições e regulamentos a cumprir só para ter automóvel, mesmo que não se atreva a andar com ele, mostram bem a severidade dessa sinistra actividade. Ultimamente ficou mesmo proibido de circular em certas zonas de Lisboa, talvez devido a horrores inconfessáveis praticados pelos motoristas com carros velhos, que por isso perdem os direitos mais básicos de cidadania: podem passar, mas a pé.
Imagine que alguém ousa vender produtos alimentares. Nada mais perigoso, nocivo e prejudicial do que esse terrível desplante. Ter um restaurante ou café é hoje um descaramento mais severamente vigiado, regulado e castigado do que a maior parte dos ladrões ou meliantes. Se os comerciantes são perseguidos, os produtores ainda serão tolerados, desde que não se atrevam a vender fruta, legumes, lacticínios e outros produtos perigosos sem as devidas cautelas. Se não se sujeitarem a inúmeras regras, processos, custos e licenças, tais substâncias só servem para consumo próprio ou ofertas a amigos. É mais complicado vender pão do que pornografia ou armas de fogo.
Se as pessoas que possuem essas comidas irregulares as oferecerem a instituições de beneficência, aumentam ainda mais a gravidade da sua transgressão. Porque ser pobre é, também ela, uma actividade perigosa e, portanto, fortemente limitada por lei. Nos lares de idosos as pessoas podem passar fome, mas não ter produtos irregularmente embalados ou fora de prazo; podem dormir na rua, mas não em quartos sem as dimensões estabelecidas e reguladas. Felizmente que essas inspecções não se estendem aos bairros de lata, onde os infelizes ainda podem viver em paz... até à primeira rusga.
Este último elemento traz uma pista para as razões desta profusão legal sobre a vida comum: todos os regulamentos referidos são exigências de rico, requintes de gente abastada. Nunca um desgraçado se lembraria de tais coisas, que aliás o prejudicam gravemente. Só os pobres deixaram de desejar um carro, que agora só pode ser novo e cheio de extras, do seguro ao colete reflector. São as suas actividades as mais perseguidas, da agricultura de quintal ao comércio de rua, que, pouco a pouco, a lei se foi lembrando de proibir ou tornar proibitivo. Ninguém usa mais sacos de plástico gratuitos do que os miseráveis, para quem tem imensas utilizações; o seu desaparecimento complica-lhes gravemente a vida.
O Estado serve o bem comum. Assim nasce, em geral após uma revolução contra um regime decadente. À medida que o tempo passa, porém, os poderes públicos vão sendo capturados por interesses. Os interesses não são maus; de facto todas as regras e legislações referidas e outras afins têm excelentes razões de ser. O defeito dos interesses é serem particulares. Quando o Estado cede a uma finalidade específica, gera custos noutros lados, que a perda do sentido comunitário impede de ver. As vítimas são sempre os fracos. Assim se instala a decadência, cheia de excelentes razões, que terminará em nova revolução, pois o regime corrompeu-se sem notar.


O Eterno Agora – Deepak Chopra









O Eterno Agora 









Toda a felicidade e realização que os seres humanos anseiam existe no momento presente. 
No agora, o tempo pára de existir e nós experimentamos uma presença que é toda absorvente, completamente em paz, e totalmente satisfatória.
Nada pode estar mais próximo do que o presente, no entanto, nada nos escapa mais rápido.
Em um instante a nossa mente nos leva para longe em memórias do passado ou fantasias sobre o futuro.
Ou nós podemos nos perceber em uma corrida contra o relógio, sentindo como se nunca existisse tempo suficiente.
Nós dizemos coisas como “O tempo está voando”, “O tempo está se acabando”, ou “Nunca existem horas suficientes em um dia.”
De algum modo nós nos esquecemos que escolhemos se queremos que o tempo seja nosso inimigo ou um aliado. Nós podemos mudar de uma percepção presa ao tempo para uma percepção atemporal para o êxtase que somente pode ser encontrado no momento presente.
Se você quer ter todo o tempo do mundo, você pode treinar a si mesmo através das seguintes práticas simples:
Pratique o prestar atenção.
Durante o seu dia, quando notar que seus pensamentos se dispersaram, volte para onde você está. Instantaneamente você verá porque se distraiu, seja porque estava entediado, ansioso, vivendo no passado, ou antecipando o futuro.
Não julgue a si mesmo; simplesmente retorne sua atenção para o que está na sua frente nesse momento.
Sinta as sensações do seu corpo.
Enquanto que a mente vive no passado e no futuro, o corpo vive no agora. Conectar-se aos sentimentos do seu corpo faz com que você retorne à consciência do momento presente.
Os nossos pensamentos estão sempre nos puxando para o futuro ou para o passado, para longe do presente.
Porém é no momento presente que nós encontramos o Espírito, o nosso ser essencial e a força que anima toda a vida.
Ao se conectar com o presente nós voltamos a nossa atenção para dentro, para longe de todo o caos e actividade e experimentamos a nossa eterna e ilimitada natureza.

(Deepak Chopra)



sexta-feira, 13 de março de 2015

Até onde nos leva um cão chamado Simba





Até onde nos leva um cão chamado Simba









Há dias perguntaram-me: se não me preocupavam os acontecimentos do dia-a-dia, o inferno que é a vida…que como podia eu ter cabeça para escrever poesia?...
E como ninguém gosta de passar por desinformada, eu para não ficar mal abri a porta do inferno (sim porque normalmente mantenho-a fechada), a ver se encontrava uma resposta para dar, e para ver se continuava tudo igual…
Num lapso deu para avaliar o agravamento da paupérrima qualidade da programação das televisões públicas que oprimem o discernimento, estimulam a frustração, transportando os assíduos a mundos onde se diluem os valores e a civilidade, a falta da mais básica cultura, o incentivo à desumanidade, a notícia convencionada e concertada pelos poderes da mídia global…debates futebolísticos que ocupam todos os canais em simultâneo em horário nobre - tortura de animais chamada tourada - arenas (estádios de futebol) onde os adeptos se gladiam entre facções ou quando a sua equipa perde, a animalidade volta-se contra a sua própria equipa – Uma tal “Casa dos Segredos” que destitui o ser pensante da faísca evolutiva que nos fez chegar até aqui (mas que parece ter assistentes VIP e grande aceitação…). O meu povo, o meu amado povo está cego…
Da e à política não concedo palavras, a todo o espectro dos políticos actuais considero traidores à pátria, exterminadores de uma raça, a nossa. Política nunca poderá ser profissão, política é missão! Remédio apenas um, 100% de votos em branco em todas as eleições próximas. Do centro do furacão vão emergir mulheres e homens, que darão um passo à frente e saberão, por amor e missão, levantar Portugal.
E como moscas em poio saltam aos olhos… a condenação de um agente da lei porque fez o seu trabalho enquanto que o delinquente recebe indemnização – a benignidade das condenações ou ilibações de violadores e pedófilos – a dança das cadeiras de politico/delinquentes que por artes mágicas são ilibados ou nem sequer acusados e passado algum tempo ocupam de novo lugares públicos… Que é feito do honor e da coragem dos justos Juízes? Que é feito da inteligência dos legisladores? Que é feito da imparcialidade de quem aprova as leis? – O meu povo, o meu amado povo está cego…
Caem como tordos, esta expressão bem pode ser aplicada às mulheres que são vitimas de maridos, companheiros, namorados…além da culpa individual adensa-se a sombra da culpa maior, a ignorância, a falta de educação, a diluição de valores humanísticos, e estas são uma atribuição das regras sociais e educacionais que são da ingerência de governos mas também da responsabilidade civil dos meios de comunicação social…pois é…as telenovelas, as casas dos segredos e afins…será que alguém se dá ao trabalho de reparar nos exemplos que estes espectáculos passam às crianças, aos jovens, e ao estímulo das deformações morais dos adultos? Quantas famílias pensam nisto quando permitem que este invasor, a televisão, eduque as suas crianças, entretenha os seus jovens? O meu povo, o meu amado povo está cego…
Quente quente está a tragédia do “Simba”, lamentável actuação de um “ser humano”. Mas no meio das inúmeras vozes e campanhas que clamam justiça, devemos alargar a fenda da indignação…porque isto amigos é apenas o fumo do inferno que espirrou:
- Quantos psicopatas obtêm armas de forma legal sem qualquer dificuldade? Todas as pessoas que requisitam armas,  deviam ser sujeitas a testes psíquicos com regularidade
- Qual o grau duma civilização que permite legalmente e seja normal nas melhores famílias, a aceitação da Caça e que lhe chamem desporto? Matar é um desporto? Ir desanuviar, sentir prazer em chacinar animais é normal? Acredito que em circunstâncias apropriadas à desarmonia mental e de falta de respeito pela vida, qualquer pessoa armada e que mata por norma, dispararia sobre uma criança, homem ou mulher, tal como disparou sobre um cão chamado Simba. Mas também esta é uma situação que vai além da sentida morte deste animal, é um problema de consciência colectiva, social, e esta consciência começa sempre no comportamento individual.
O Inferno tem portas largas, seria um nunca mais acabar o analisar as labaredas doutras coordenadas geográficas, mas por hoje chega! Fechei a porta!
- Volto-me para o meu trabalho, em consciência
- Volto-me para todos que cruzam a minha vida, em colaboração e respeito
- Volto-me para mim mesma, em análise diária de como superar as minhas falhas
- Varro em frente da minha porta  
E com isto o meu tempo cresce para receber a poesia, e esta faz parte de tudo quanto olhamos, fazemos e acarinhamos, em amor, em consciência…


Maria Adelina de Jesus Lopes








domingo, 8 de março de 2015

No dia da MULHER, dedicado a todos os HOMENS


Dedicado a todos os HOMENS. Decretemos a era da harmonia, respeito, colaboração, completude plena entre homens e mulheres pela glória de sermos (estarmos) humanos.



ITHAKA KAVAFIS Sean Connery- Vangelis






ÍTACA

Quando abalares, de ida para Ítaca,
Faz votos por que seja longa a viagem,
Cheia de aventuras, cheia de experiências.
E quanto aos Lestrigões, quanto aos Ciclopes,
O irado Poséidon, não os temas,
Disso não verás nunca no caminho,
Se o teu pensar guardares alto, e uma nobre
Emoção tocar tua mente e corpo.
E nem os Lestrigões, nem os Ciclopes,
Nem o fero Poséidon hás­‑de ver,
Se dentro d'alma não os transportares,
Se não tos puser a alma à tua frente.

Faz votos por que seja longa a viagem.
As manhãs de verão que sejam muitas
Em que o prazer te invada e a alegria
Ao entrares em portos nunca vistos;
Hás­‑de parar nas lojas dos fenícios
Para mercar os mais belos artigos:
Ébano, corais, âmbar, madrepérolas,
E sensuais perfumes de todas as sortes,
E quanto houver de aromas deleitosos;
Vai a muitas cidades do Egipto
Aprender e aprender com os doutores.

Ítaca guarda sempre em tua mente.
Hás­‑de lá chegar, é o teu destino.
Mas a viagem, não a apresses nunca.
Melhor será que muitos anos dure
E que já velho aportes à tua ilha
Rico do que ganhaste no caminho
Não esperando de Ítaca riquezas.

Ítaca te deu essa bela viagem.
Sem ela não te punhas a caminho.
Não tem, porém, mais nada que te dar.

E se a fores achar pobre, não te enganou.
Tão sábio te tornaste, tão experiente,
Que percebes enfim que significam Ítacas.



Constantino Kabvafis (1863-1933) 

Partiu há um ano e um dia... Fina D`Armada




No dia dedicado à "Mulher" deixo um presente, este belíssimo e profético poema dessa grande Senhora que foi Fina D`Armada, cuja obra merece fazer parte dos nossos programas de ensino. 










A VISÃO DA VELHA DO RESTELO

Há-de vir um dia, talvez de madrugada,
em que as mulheres bordarão em oiro fino
com suas novas mãos, no mundo, outro destino.

Há-de vir um dia, talvez de nevoeiro,
que solte as asas dos talentos encobertos
que o vento levará a tempos mais despertos.

Há-de vir um dia, talvez de ondas bravas,
em que a voz e a pena, o trabalho e o estudo
construam e desconstruam o nada e o tudo.

Há-de vir um dia, talvez só com estrelas,
em que mulheres como iguais, não será mito,
comandarão mansas armadas pelo infinito.


Fina D`Armada



domingo, 1 de março de 2015

O Desperto



em 22 Fev 2015

O Desperto, epíteto de Budha é muito abrangente no seu significado. O desperto para a vida espiritual é aquele que encara a vida com inteligência, frontalmente erguendo o bastião da superação e resiliência não adormecendo perante os obstáculos. Superação, entenda-se como uma forma inteligente de enfrentar situações adversas que obrigam a olhar para compreensão real dos factos, tentando então soluções, ou uma aceitação consciente de tais circunstâncias e, não como uma forma de delegar para depois as resoluções, como vencidos pela vida. Na realidade, todos os ensinamentos orientais incluindo o Budismo falam em ultrapassar as dificuldades pela força interior, pela investigação e em sublimar os desejos mais primários, pois são eles os embaladores da mente para o encanto do sonho acordado. Assim, trabalhar os apegos é abrir portas à clareza mental sendo esta que denúncia o grau do despertar. As práticas que estas filosofias propõem são no sentido de tornar o ser desperto através da atenção, concentração e meditação. A dispersão pelos quereres cria falsos poderes que embotam a mente, adormecendo-a. Desperto é estar atento a si mesmo e à vida. Atento a si mesmo inclui disciplina, autoconhecimento para o melhoramento do carácter e consequentemente sublimação dos desejos que provocam hábitos perniciosos, bem como estar atento a novos conceitos. Sobretudo, atento às suas próprias percepções mentais e emocionais. Ter cuidado com o que se pensa e com o que se sente é um passo importante para conseguir o domínio de si e estar desperto, alerta. Ser atento à vida requer; superação frente às contrariedades, disciplina mental e física, objectivos e direcção delineada contrariando a dispersão. Estes são passos importantes para levar uma vida desperta espiritual e física pois uma não existe sem a outra. Completar a vida nestas linhas constitui o despertar das primeiras etapas duma caminhada que se quer espiritual mais consciente rumo ao
conhecimento do Divino.
O desperto é aquele que está atento e se melhora minuto a minuto, até que a mente adquira a clareza cristalina, onde então sobressai a equanimidade. O pensamento flui sem atropelos, sem confusão porque a mente adquiriu a estabilidade do seu funcionamento. Os atropelos à mente acontecem porque não há disciplina no pensar, mas quando se apaziguam os quereres ou prazeres inúteis começa a possibilidade do domínio da mente. E ter serenidade mental e viver em paz consigo mesmo é consequência do verdadeiro despertar. A mente desperta olha e vê com clareza o que antes via nublado e está acordado para a realidade da vida e de si mesmo.     


Maria Ferreira da Silva


Spiritus Site